No dia 20 de julho celebrou-se o dia do amigo. E nada melhor do que lembrar nesta data da mais fiel e verdadeira amizade. Aquela que não se importa se você mora na rua ou em uma mansão, que não liga qual a sua religião ou cor da pele, que não mede esforços para proteger, que permanece ao seu lado nas horas boas e ruins. Um belo exemplo de amizade daquele que, sem dúvida, faz jus ao título de melhor amigo do homem: o cão.
Por Maiara Raupp
Em alguns casos, a importância do cão para o ser humano é muito maior do que imaginamos. Muitas são as histórias de cães que se tornaram verdadeiros heróis ao salvarem a vida de seus donos ou defendê-los até as últimas circunstâncias. Não se tem conhecimento de uma amizade tão forte e duradoura entre espécies distintas quanto a que há entre homem e cão.
A frase “O cão é o melhor amigo do homem” foi dita durante um julgamento feito pelo advogado americano, George Graham Vest, em 1870, quando defendia a morte de Old Drum, o melhor cão de caça de um fazendeiro local. Um vizinho, desconfiado que o animal andava matando suas ovelhas, deu ordens para que atirassem no cachorro. Quando Old Drum foi encontrado morto seu proprietário resolveu processar o culpado. Com um belíssimo discurso, George Vest ganhou a causa. Em 2000 foi lançado o filme – The Trial of Old Drum (Em português, foi traduzido como ‘Meu Amigo Drum’).
Sempre ao seu lado
Além dessa história, existem muitas outras espalhadas pelo mundo que viraram filmes e elucidaram a fiel relação entre o homem e o cão, como, por exemplo, o filme “Sempre ao seu lado”,onde um cachorro da raça Akita espera todos os dias, durante dez anos, a volta de seu dono em uma estação de trem do Japão, sem saber que ele já havia morrido.
História semelhantes de lealdade ocorrem em Torres também. É o caso do vira-lata Juninho, que desde pequeno acompanha sua dona, Márcia Cristina Vitorino, no caminho do serviço. Faça chuva ou faça sol, lá está ele, de plantão à espera de Márcia na porta do restaurante Sabor Praiano, onde ela é auxiliar de cozinha. “Saio de casa de moto às 7h15. Ele vêm junto comigo. Não faz o mesmo trajeto que eu, mas quando eu chego ao restaurante ele já está lá na porta me esperando”, conta a auxiliar, que mora no Passo de Torres (SC)
Juninho, carinhosamente chamado de “Chocolate” pelos vizinhos do restaurante, devido a sua cor, é querido por todos. Quando ele não está pela redondeza todos se preocupam. Como passa o dia todo esperando a sua dona, ele ganha água, comida e muito carinho. “Ele já até atende por ‘chocolate’”, conta Márcia, que já era dona da mãe de Juninho, morta por envenenamento no último verão.
Márcia e o sempre paciente Juninho: amigão de quatro patas
Parceria sem medida
A psicóloga Luiza Mattos sempre foi louca por cachorros. Sempre queria levar todos os cães de rua para sua casa. Na medida do possível, tentava se controlar… Até que um dia seu coração falou mais alto ao encontrar um cachorrinho dormindo em um canteiro perto da Lagoa do Violão, aparentemente com frio e fome. “Levei-o para casa. Dei comida e passei a tarde brincando com ele. Depois, de barriga cheia e com muitos afagos, o danado foi embora”, contou ela.
Cerca de um mês depois, Luiza dormia quando seu sono foi interrompido por muitos latidos. Era o cachorro que voltava, chamando por ela desesperadamente. “Ele latia muito e fui obrigada a levantar e olhar. Quando vi era ele. Sentado no meio da rua. Olhando em minha direção. Sai correndo e a partir daí decidimos morar juntos”, falou ela, rindo.
Luiza lembrou que os dois passeavam de bicicleta, ela pedalando e ele na cadeirinha para criança. “Nunca andou na coleira. Me acompanhava em tudo. Me esperava na porta da padaria até que eu saísse. Uma vez ficou preocupado com o tempo que demorei no mar. Então entrou mar adentro, mas como a correnteza estava forte, se não fosse o resgate de um surfista, não sei o que teria acontecido com ele”, recordou a psicóloga, contando ainda que Trigo, como foi nomeado por ela, lhe acompanhava todos os dias até a escola. “Me deixava na porta e depois ia passear. Mas sempre quinze minutos antes do sinal tocar eu podia olhar pela janela da sala em direção a esquina que ele estava lá. Sentadinho me esperando”, relembrou.
“Ele fazia parte da família. Se íamos comer pizza, ele ia também. Já era tão da casa que sentava na cadeira como todo mundo. Estava sempre ao meu lado. Me protegia de tudo. Não deixava ninguém estranho chegar muito perto”, explicou Luiza.
Mais tarde a psicóloga descobriu que Trigo já tinha dono e que na verdade se chamava Rex. “Nós dois estávamos indo resolver alguma coisa na rua quando de repente ele dispara em direção a uma senhora. Fez uma festa danada. Aí descobri que ele havia fugido da casa de sua dona anterior. No entanto, quando me despedi da senhora ele sem hesitar fez o mesmo. E fomos embora juntos novamente”, reviveu ela com alegria. “Tinha mesmo sido um amor por escolha. Livre e cheio de companheirismo como devem ser os amores”, concluiu ela.
Hoje, Trigo não faz mais parte da vida de Luiza, mas continua vivo em sua memória.
Trigo já se foi, mas continua vivo na memória de Luiza Mattos
Pastores e Amores
Uma vida sem eles de nada vale.
Sem cor.
Sem amor.
Sem Amoras.
Ou amores.
Olhares profundos.
Amores sinceros (…)
Essa é uma parte da poesia escrita pela professora Ana Moog em homenagem aos seus cães da raça Pastor Alemão – Amora e Hermes. Ela que é amante de cachorros, tem um álbum especial em seu Facebook com fotos dos amigos de quatro patas e escreve poesias inspiradas neles. “A vida é sem dúvida melhor ao lado deles. É um amor incondicional. É parceria garantida”, disse ela.
Ana conta que não há amizade mais pura e verdadeira. “Quando eu saio para caminhar na praia eles vão comigo. Alegres e dispostos. Quando eu estou doente na cama, eles permanecem ao meu lado até eu me levantar. Quietos e compreensíveis. É algo inexplicável”, afirmou ela.
Assim como Ana, muitos tentam encontrar as palavras certas para explicar tamanha afinidade. Talvez a mensagem final do livro/ filme “Marley e Eu” (também recorde de bilheteria), explique um pouco dessa relação única entre o cão e o ser-humano:
“Para um cão, você não precisa de carrões,de grandes casas ou roupas de marca. Símbolos de status não significavam nada para ele. Um graveto já está ótimo. Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, esperto ou burro. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Dê seu coração a ele, e ele lhe dará o dele. É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não. De quantas pessoas você pode falar isso? Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial? Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?”
Porque o cachorro é o melhor amigo do homem?
Segundo o veterinário Hermes Raupp, o cão é o melhor amigo do homem porque independente de você estar vivendo um momento ruim ou bom, estar mal humorado ou bem humorado, ele sempre está ao seu lado, faceiro, fazendo festa, abanando o rabinho. “Já as pessoas são diferentes, agem de forma diferente. Quando estamos em um momento bom, muitos amigos aparecem. Confidenciamos coisas. Mas quando não estamos bem, os amigos somem e muitas vezes jogam na cara aquilo que um dia o confidenciamos”. |